21.7.07

Postagem de amor, ridícula.

Que silêncio! Por que não escuto mais nada?

Estás aí a dormir teu sono de menino. Sei que só eu te vejo assim. Tua nudez e o linho, quanta dúvida! Meu coração, esse cofre sem segredo, mas que só abre por dentro, tem uma mão exitante que lhe toca a chave pela ponta dos dedos.

Mesmo a flor que ofereces temo esmagar na minha palma bruta.

Teus cílios são guirlandas negras se uma luz, mesmo frágil, te fecha as pálpebras
Quando recuas assim teu olhar como ostra
Só me resta buscar tua boca entreaberta.

Multiplico o entender do que somos

Uma gangorra
Uma saudação
Um gesto
Uma cópula
Um beijo
Um diálogo
Uma bifurcação
Um acorde
Um pás-de-deux
Uma réplica
Uma ambigüidade
Uma dúvida
Uma paralela
Um bis
Uma disputa
Um comércio
Um cumprimento
Um bivalve
Um ambidestro
Uma dicotomia
Um bigode
Uma janela
Um pulsar
Um matrimônio
Um irmão
Um andar
Um acordo
Um binômio
Uma discórdia
Uma parelha
Um duplo
Uma dupla
Um duo
Um dístico
Uma ânfora
Um anfíbio
Um anfiteatro
Uma polaridade
Um bissexual
Uma bissexual
Uma contenda
Uma coabitação
Um binóculo
Um partido
Uma concórdia

Duas bolhas já se consideram espuma


Entrego-me novamente à refrega no tardar da vida
a mão mais firme na brida e um coração que sossega
ao invés de leões centauros movem a quadriga
0 ódio já não me turva a vista, hoje é Amor quem me cega.


Já ansio por te encontrar desde que te despedes. Não tenho o consolo do trigal como o tinha a raposa.

Álvaro de Campos fala!

"Todas as cartas de amor são ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor, como as outras, ridículas.
As cartas de amor, se há amor, têm de ser ridículas.
Mas, afinal, só as criaturas que nunca escreveram cartas de amor é que são ridículas(...)"