20.7.08

Das Helmi em Salvador agora que assistí

Assistí ontem ao Fausto do Das Helmi. Muito divertida a proposta. Não ofende o texto. Duvida um pouco da capacidade de percepção do brasileiro ( como diz a 'Frente em defesa da Cultura Catarinense' na postagem anterior só que lá cúmplice da proposta ). Gostei mas fica aquela pergunta de quase sempre: por que bonecos?

Encenação interessante foi feita aquí com a direção de Daniel Guerra, recém formado no curso da Ufba, elenco também de formandos e a participação de André Rosa no papel de Fausto, todo em gramelô e jogos corporais fascinantes. Ficou pouco em cartaz por ser uma mostra ligada ao curso mas tenho essas imagens:
























Assistencia de direção: Maecelle Pamponet
Design sonoro: Laura Franco
Luz: Pedro Rodrigues
Figurino e maquiagem: Tarcisio Almeida


'O mito de Fausto, a obra Fausto de Goethe e o seu pensamento

O mito do doutor Fausto é uma das lendas clássicas mais importantes da civilização ocidental. Oto Maria Carpeaux no prefácio da tradução de Antônio Feliciano de Castilho da obra Fausto coloca que Fausto é figura histórica. Viveu na Alemanha no começo do século XVI, numa época das superstições mais estranhas, ganhando a vida exercendo a profissão de astrólogo e necromante. Existem documentos relativos à sua pessoa – recibos de pagamento por ter feito horóscopos e coisas assim – mas não deixou vestígio algum de grande sabedoria ou de qualquer obra notável. Por motivos que ignoramos cresceu em torno de Fausto uma lenda fabulosa de milagres que ele teria realizado, e disso uma criatura humana só é capaz, conforme as convicções da época, com a ajuda do diabo. Por volta de 1520, em plena Renascença, Fausto ainda é um mago admirável. Por volta de 1580, depois da vitória do protestantismo e na época das guerras de religião, Fausto já é transformado em famoso teólogo que, por meio de um pacto, vendeu a alma ao diabo para gozar os prazeres vergonhosos deste mundo e, tendo expirado o prazo, ser levado pelo demônio. As primeiras histórias contando os feitos de Fausto datam do século XVI, quando Johann Spiess escreveu “Faustbuch” (1587) e Cristopher Marlowe escreveu “A história trágica do doutor Fausto” (1592). Desde então a lenda de Fausto tem sido contada várias vezes e traduzida em diversas línguas. Além dos livros, ela tem inspirado filmes e óperas, fazendo de Fausto um dos heróis mais populares dos últimos 400 anos.
No livro Deus e o Diabo no Fausto de Goethe Haroldo de Campos coloca que o poeta alemão Johann Wolfgang Goethe escreveu entre 1770 e 1832 umas das mais sofisticadas versões da história de Fausto. Goethe iniciou o seu trabalho quando tinha 21 anos e só considerou concluído aos 62 anos. Nas versões mais primitivas do mito de Fausto, antes de Goethe, este personagem foi representado como um homem ambicioso que tinha vendido a sua alma para o diabo em troca de certos bens como dinheiro, sexo, fama e glória. No entanto, na obra de Goethe, Fausto possui um ideal mais nobre e altruístico, o sonho de libertar a humanidade do sofrimento e da dor. O personagem de Goethe é animado pelo sonho da modernização e do progresso, reunindo assim o ideal romântico de desenvolvimento com o ideal épico de uma nova ordem e de uma nova sociedade construídas a partir de nada, através do planejamento e da aplicação de uma racionalidade superior. A fim de criar o seu admirável mundo novo, Fausto vende a sua alma em troca do acesso irrestrito ao conhecimento, à racionalidade superior e à sabedoria.
A respeito da obra Fausto de Goethe Oto Maria Carpeaux comenta: “É a obra mais complexa do mundo, mistura incrível de todos os estilos, e isso se explica só pela maneira como foi escrita a obra, durante 60 anos, acompanhando e exprimindo todas as mudanças estilísticas e filosóficas dessa longa vida literária” (pág. 6 e 7). Com efeito, Fausto é a Divina Comédia dos tempos modernos. Goethe é o Dante Aligheri moderno. Assim como o grande florentino, o poeta alemão dispunha do saber enciclopédico da sua época, resumindo poeticamente todos os sentimentos e pensamentos do homem moderno – Dante, o herói invisível da Divina Comédia, resumira todos os sentimentos e pensamentos do homem medieval. Os alemães costumam ler o Fausto folheando comentários eruditos que lhes explicam as alusões científicas, citações disfarçadas, sentidos ocultos – e quanto mais comentários, tanto mais se estabelece a convicção geral: Fausto é uma obra muito difícil.'

Felipe dos Santos Matias
Graduando em Letras
Universidade Federal de Viçosa
lippem@yahoo.com
Querendo ler o trabalho de Felipe dos Santos Matias, "INTERTEXTUALIDADE: a presença da obra Fausto de Goethe no conto “A igreja do diabo” de Machado de Assis", na íntegra clica aquí.
Na revista digital 'A Criação' Fábio de Oliveira Ribeiro discorre mais especificamente sobre o Fausto histórico e 'arrisca' a idéia do Fausto autobiográfico em Goethe. Deveras? Clica aquí.