9.2.07

FUGIT, DUM ASPICIS

Ela escapa enquanto a fitas


Para fazer nascer e destruir bolhas de sabão.
Que não se comprimem além do tanto do sopro.
E não se expandem além do existido.

Margens da verdade das coisas frágeis.

A efemeridade da existência destrói qualquer desejo de amar coisas que permaneçam. As coisas perecíveis são comoventes. Estas coisas que, sem qualquer outra pretensão, são plenamente existidas em sua passagem. Será possível existir sem a carga da função? O pesado véu que nos oprime em toda estética relacionada à morte não seria, em suma, o peso da função? Concordo, e me parece irremediável concordar que todo gesto é um gesto em relação ao outro, conclusão aterradora se tomamos a liberdade como bem maior. Esta busca, essa angústia por permanecer, por manter uma função em relação ao outro, não nos tira, também irremediavelmente, a liberdade?

Buscamos todo tempo, em todo gesto, imprimir um simulacro do que acreditamos ser (ou do que, pelo menos, queremos que acreditem que somos) na memória do outro, algo que nos faça significar, nunca nos basta significarmo-nos a nós mesmos.

Tensões internas e externas fazem a bolha de sabão existir, falta-lhe consciência para se regozijar do quão pouco precisa para existir e para lamentar suas opressões.

Toda criança tem um encantamento especial por bolhas de sabão, encantamento que certamente se estende por toda a vida. Não há nada que substitua o prazer de ver uma bolha de sabão surgir, flanar e desintegrar-se para nunca mais.


OMNIA SOMNIA

Tudo é sonho