7.12.06

A segunda híbris


A incógnita me burla onde quer que eu possa suspeitá-la. Assim que a percebo na sombra dos móveis ela se torna uma meia, camisa torcida, um trapo, qualquer coisa que expresse inocência fingida. Ela também se oculta nas novas manchas da parede depois da chuva. Se infiltra nos recôndidos, me aguarda num cesto. Mimetiza-se entre os pêssegos recém colhidos ou na tapeçaria pendurada no vão das portas. O que resguarda a memória do tronco de uma árvore alí ela se enrosca em volutas atávicas de quem há muito só sabe tocar as coisas com o todo de seu corpo. Pendura sua cabeça triangulada como o fiel da balança; assim todos os pêndulos me assustam como se ela os possuísse. Ela está na maneira como os líquidos viscosos se derramam. Ela mesma derrama-se em queda surda. O ar suspenso em meus pulmões ajuda-me na petrificação diante de sua sinuosidade. Só assim percebo-a além de sua contenção; fugindo à sua constrição. Petrificar-se é adormecer e também estar alerta à sua especificidade contínua, contígua.




foto: Luiz Felipe

Flutuações no Liperama

Luiz Felipe é mais um fotógrago que não encherga bem com os óculos, a câmera lhe é suficiente para ver mais (até de si mesmo).




Felipe fotografou algumas de nossas esculturas em papel ( logo poderão ser vistas no 'Papel pra toda obra' e no 'Calunga') , fiz uma visita ao seu blog 'Liperama'. A mensagem flutuante no casco me levou às lágrimas. A imagem às 'margens da palavra'. A vau à um triz de onde o fotógrafo vê infalível, é tudo ilusão.

O fotógrafo e a longa sombra