5.2.06

Amor pelas ruínas







Ei-la sépia de passado.


Em ti o meu olhar fez-se alvorada,
E a minha voz fez-se gorgeio de ninho,
E a minha rubra boca apaixonada
Teve a frescura do linho

Florbela que me sangra

Amor que morre


O nosso amor morreu... Quem o diria!
Quem o pensara mesmo ao ver-me tonta,
Ceguinha de te ver, sem ver a conta
Do tempo que passava, que fugia!

Bem estava a sentir que ele morria...
E outro clarão, ao longe, já desponta!
Um engano que morre... e logo aponta
A luz doutra miragem fugidia...

Eu bem sei, meu Amor, que pra viver
São precisos amores, pra morrer,
E são precisos sonhos para partir.

E bem sei, meu Amor, que era preciso
Fazer do amor que parte o claro riso
De outro amor impossível que há-de vir!

Mais esta de Homero Homem

Cacilda. Preta. Por fome
(essa fome nordestina
sergipe de tão comum)

Cacilda preta, por fome
de comida se dá toda.
Por amor só da a um.

Mau comércio de Cacilda.
Cacilda dorme com todos
mas acorda sem nenhum.

Vigarice de Cacilda
pelas Lapas do sol posto
cavando seu desdejum:

se espoja em cama de vento
apaga a vela a Ogum.
O corpo vira cem pratas.
Com vinte de safadeza
Mais dez de semvergonhice
Cacilda compra pimenta.
Meia-noite janta atum.

Ah profissão de Cacilda
que deita por feijão preto
e nana por gerimum.

Deita, Cacilda. Deitada
a fome quebra o jejum.

Cacilda preta expedita
polvilha pele e axila.

Com talco leite de rosa
desodoriza o bodum.

Cacilda preta expedita.
Sempre fatura algum.

Cacilda negrinha à toa
Mulher de Cosme e Doum.

Com fome se dá a todos.
Jantada, só dá a um.


Sobre Cacilda. Preta. Por Fome.