29.12.07
O olho que insiste é o que vê
5.12.07
2.12.07
Teatro de Bonecos
Ele _ Ele se constitui de um corpo longo e esguio, sem membros, na extremidade inferior foi acoplado um lado de patim, o direito, que se move pela força de seu pensamento. Na extremidade superior também apenas um olho, com um só orifício frontal, o que só lhe permite olhar para frente.
Ela e Ele vivem cada qual em uma das extremidades de uma tábua de leis que oscila sobre os ombros de um corcunda. O corcunda não precisa se preocupar com o equilíbrio da tábua, apenas a sustenta e, mesmo sabendo da existência deles ignora de que lado da tábua cada um está. Isso lhe poupa julgar as oscilações que sente.
O corcunda é fiel em sua função e não se importa muito com o peso que carrega. Está feliz em imaginar os movimentos que aqueles fazem para fazer oscilar a tábua.
A queixa do corcunda é a falta de possibilidades de manobra.
Um estranho pássaro amarelo vem constantemente lustrar as quatro rodas do patim d’Ele e catar as pérolas barrocas que Ela lhe oferece como alimento.
Ela costuma gritar as leis inscritas na tábua. Um escriba cego traduz para um gravador em trinta e seis línguas mas, terminada a fita apaga o já gravado e recomeça.
Ela _ O que está em cima é igual ao que está em baixo, o que está em cima permanece em cima, o que está em baixo permanece em baixo.
( Ao dizer isso aponta com vinte braços direitos para cima e dezenove braços esquerdos para baixo. O escriba traduz em grego para o gravador).
Ele rola seu patim para equilibrar a tábua que oscilou sob o movimento dos trinta e nove braços d’Ela. Faz isso para aliviar o trabalho do corcunda.
Ela _ Um peso e uma medida. Para cada peso uma medida.
(Lança uma pérola para o pássaro que a apanha no ar antes de sumir entre nuvens).
Vez ou outra uma pérola cai, por distração, no chão. O corcunda é suficientemente estúpido para deseja-la, mas nunca pôde alcançar nenhuma. Isso faz do chão um terreno não muito seguro para o corcunda e para todos sobre ele. Apenas o corcunda sofre com a consciência disso.
21.10.07
Desconcerto
Temporada de 18 a 27 de outubro (Quinta à Sábado) às 20 hs.
Teatro Gregório de Matos. Praça Castro Alves, s/n – Centro.
Contato: Gabriela Sanddyego. Tel. (71) 8818 7949
Ingressos: R$ 6,00 (inteira) e R$ 3,00 (meia)
Desconcerto é um monólogo onde a pianista Irene della Porta fala com seu público sobre o pacto que fez com seu empresário para tocar o Som do Silêncio no lugar da Sonata Patética de Ludwig Van Beethoven. Este pacto a atormenta mas, paradoxalmente, lhe traz um enorme êxito profissional já que o público lota seus “desconcertos” para aplaudir seu fracasso. Estreada em 1981, no Ciclo de Teatro Aberto, em Buenos Aires, durante o período da ditadura militar argentina, esta obra já foi traduzida e representada na Alemanha, Espanha, Itália e Inglaterra, transcendendo os localismos alude às condições de vida que a fascistização de qualquer sociedade humana. O texto de Diana Raznovich foi considerada pelo Jornal El País, da Espanha, como uma das “mais belas e poéticas manifestações teatrais de nossa própria repressão”.
Direção: Juliana Ferrari
Assistência de Direção: Monize Moura
Elenco: André Rosa
Preparação Vocal: Janaína Carvalho
Operação de Luz e Som: Cláudio Mendes
Produção Executiva: Gabriela Sanddyego e Zero71 Marketing e Entretenimento
Artistas Convidados
Figurino: Tarcísio Almeida
Cenário: Fábio Pinheiro
Maquiagem: Pedro Costa
Design Gráfico: Leon Bucaretchi
O Teatro Gente-de-Fora Vem é uma companhia, sediada na cidade de Salvador Bahia, e atualmente membro da Cooperativa Baiana de Teatro. Desenvolve há quatro anos trabalhos de pesquisa continuados na área de Artes Cênicas.
(Fotografia de André Rosa como Irene Della Porta em Desconcerto.
5.9.07
4.9.07
Os que desbravam, os que elucidam
Fico triste. Parece que nunca teremos outro Vermeer. Ele que soube aproveitar e entender tão bem a luz do dia através de uma janela como um toque que doura e dignifica o nível do facilmente digerível e perceptível e (claro) lúbrico, como tema e a penumbra que lhe fazia oposição e ocultava a gama de significados necessários ao mistério e à tudo que, por permanecer indecifrável, é o lugar de sobrevivência da arte.
Não é tão alegre acionar um interruptor e ver despejar-se agressivamente a luz amarela de uma lâmpada elétrica como era alegre, intimamente alegre, o acender dos candeeiros. Um ritual magnífico quando se levantavam os adultos todos juntos seguindo pelo corredor escuro. Logo uma luz mortiça na cozinha e o cheiro delicioso de querosene. Avançavam o corredor cada qual com seu candeeiro como uma procissão e depunham-nos sobre as mesas ou penduravam-lhes aos ganchos presos nos caibros do telhado. Sempre em silêncio ou murmúrio porque logo em seguida o radio faria soar a ave-maria.
Fico imaginando o que meditavam sobre a invenção dos candeeiros os acostumados à fricção do sílex.
30.8.07
Quede, cadê?
Quando dei por sua falta? Como sou descuidado!
Quando o procurei? Se houvesse procurado talvez, ao encontrá-lo, o guardasse em outro lugar. Que outro lugar? Mas, afinal, qual foi o primeiro lugar onde o deixei? Definitivamente nunca o procurei. Talvez nem o perdera a não ser em minha memória. Estarão perdidas as coisas das quais não lembramos? Quantas coisas estarão assim não achadas por não procuradas, por nem lembradas. Coisas tantas. Um pedaço imenso que nos constitui sem o sabermos.
Não há tantos lugares onde procurar, aliás, há. Tantas mudanças... Talvez tenha ficado pelo caminho. Eu lhe tinha tanto apego! Não, se fosse apegado eu o mudaria de um lugar para outro e haveriam muitos lugares impregnados de seu significado e todos estes lugares me obsedariam com o peso de sua existência.Lembro muito bem da primeira vez. Não, não lembro. Estranho, por mais que retroceda não me é possível lembrar quando... Ah, mas me lembro como! Não, não lembro. Minha vida, agora percebo, é um ‘roll’ de negações sistemáticas.
29.8.07
O Jardim Selvagem
Lavadas as carnes vermelhas o enxágüe era reservado para com ele serem regadas certas plantas. A ‘jibóia’, a ‘jiboínha’, o ‘tajá’. A planta ‘curada’ desenvolvia o poder de materializar, à noite, uma jibóia ou de criar a imagem de uma jibóia para afastar intrusos. A imagem de um homem ou preto-velho também poderia ser criada por estas plantas. Caso a planta, depois de curada, de receber pela primeira vez a água com sangue, não recebesse constantemente esse tratamento, ela se voltaria contra os donos da casa, não mais os protegendo de intrusos ou atraindo má-sorte. Depois de iniciado o encantamento era necessário manter a ‘obrigação’.
Minha avó paterna mudava de casa levando suas plantas. O caminhão de mudanças parecia um jardim móvel. Nas casas o jardim ocupava o pátio e as laterais da casa. Vasos, latas de manteiga, vasilhas plásticas, baldes tudo em desordem. Plantas sustentando plantas num arranjo caótico. As samambaias e avencas em profusão. Roseiras, crótons e bananeiras.
Entre os talos das palmas da bananeira ali eram depositados nossos cabelos cortados para voltarem a crescer mais saldáveis. As graxas, que lá se chamavam pampolhas, cresciam próximas à cerca ou substituíam parte dela. A roseira-de-cacho entremeava-se aos gradis das janelas deixando as casas da minha infância estavam sempre em penumbra. Lembro de deitar folhas de papel ao chão e desenhar as silhuetas das plantas que se projetavam desde as janelas.
Gosto das lendas indígenas que falam da metamorfoses de seres humanos em plantas. Dentre as muitas que ouví das bocas de minhas avós e tias antes mesmo de conhecer o mito de Narciso e Eco, que também adoro, está a do Tamba-Taja.
'Havia um índio que, por muito amar sua esposa, levava-a sempre consigo para todo lugar, fosse para caçar, pescar ou lutar. Certa vez, o índio teve que ir para a guerra, mas a esposa estava doente, sem poder andar. Não querendo separar-se de sua amada, ele fez um saco com folhas de bananeira, para carregá-la nas costas. Durante o combate, sua amada foi ferida e morreu. O índio, desesperado de amor, enterrou-se junto com ela. No lugar onde jaziam seus corpos, nasceu um tajá diferente, pois atrás de cada grande folha verde da planta nascia uma pequena folha de forma vaginal. Renasciam assim os amantes, unidos novamente para sempre'.
Waldemar Enrique (1905-1995) compôs 'Tamba-Tajá'
Tamba-tajá me faz feliz
que meu amor me queira bem
que meu amor seja só meu
de mais ninguém
que seja meu,todinho meu,
de mais ninguém.
Tamba tajá me faz feliz...
Assim o índio carregou sua macuxi
para o roçado, para a guerra, para a morte...
assim carregue o nosso amor a boa sorte...
Tamba-tajá me faz feliz...
Que mais ninguém possa beijar o que beijei
que mais ninguém escute aquilo que escutei
nem possa olhar dentro dos olhos que olhei.
Tamba-tajá
Tamba-tajá
Para ouvir ou baixar em mp3 a composição executada no 1° Encontro Nacional de harpistas clique aquí.
E aquí, pelo youtube, uma homenagem a Waldemar Henrique pela Orquestra Sinfônica do Teatro da Paz tendo Mateus Araújo como rejente.
23.8.07
20.8.07
Só o que trago dos anos 80
Quase nunca ouço música americana mas gosto de Cyndi Lauper e especialmente do álbum 'Sisters of Avalon'(com Jan Pulsford). Dentre suas músicas a que mais ouço é 'Mother', que me causa um estranhamento que beira o místico (e me faz lembrar Hamlet!). Encontrei um comentário atribuído à Cyndi Lauper sobre esta canção no blog 'Brothers and Sisters of Avalon'. Acho bastante confiável porque o discurso parece mesmo com o dela.
"Jan começou a escrever esta canção no Hotel Okura em Tóquio. Jan e eu terminamos ela Connecticut e Tennesse. Shang Shang Typhoon fez a harmonia nesta canção. Como a canção começou a ser escrita em Tóquio, eu e Jan precisavamos de alguém como Shang Shang Typhoon envolvido nesta canção. Eles (grupo de S.S. Typhoon) têm uma existência muito misteriosa, eu sinto como se eles estivessem vindo de um outro planeta mas quando eles entraram em nosso ritmo, eu percebi que eles são realmente maravilhosos. Esta canção é sobre nossa terra, a re-descoberta da terra. Nós, vivemos numa civilização em forma útero materno . Eu também tenho um útero porque eu sou uma mulher e eu tive que mudar o modo que eu penso quando eu percebi que esta civilização está toda conectada pelo útero de uma mãe... Eu escrevi esta canção num dia em que a lua parecia tão azul que isso me inspirou a cantar sobre esta terra e nós... é muito memorável".
Gosto muito desta foto de um disco recente, ela de 'glam lady' diante de NY saindo de um bueiro. Ela nasceu no Queens.
"Como 'You Don´t Know', esta canção também surgiu quando eu estava muito chateada. A história é assim: Um dia, eu fui a um bar cheio de pessoas que estavam lidando com negocios de espetáculo. Eles não sabem qualquer coisa sobre o assunto, mas estavam conversando sobre artistas. Eu penso que isto é tão terrível o quanto eles não se preocupam com outros, mas o assunto se fixou nisso!
Eu disse que estava tentando algo novo, um homem me disse " Ei, isto não é possível para você e até mesmo porque esta é coisa ruim para fazer " (os Leitores não sabe o que Cyn estava tentando para fazer) Então eu pensei : "Quem decidiu que isto é ruim"? Eu estava tão furiosa. Eu poderia dizer que até mesmo se ele finge ser um bandido, dentro dele existe uma pessoa muito conservadora, que segue bem firme ali dentro. Assim, este sentimento que eu tive, me fez pensar nesta canção. Nigel Pulsford e William Witmann deram o acabamento instrumental nesta canção e eu também toco guitarra nela."
Praças e livros
É um lugar de respirar, só lembramos disso quando lá estamos.
Ali sob os cajueiros onde, encarapitado, ensaiei meus primeiros jogos eróticos. Onde os flamboyans rivalizavam com as nuvens de final de tarde em flamejações. Onde nós moleques assavamos pardais e tanajuras.
Foi em uma praça que os encontrei, os livros. Antes pensava que só existiam enciclopédias, que conhecia de lhes ver as figuras e onde tartamudeei as primeiras palavras numa época de primário de escola pública. Nem sabia existir bibliotecas e aquela, móvel (a propriedade que todo livro quer ter e nem sempre consegue) veio substituir em igual vertiginosidade, os brinquedos que dali em diante só serviam de espera para o momento mais feliz de ver a combi chegando com eles, os livros. Como girar nas argolas se Sherazade contava estórias para livrar o próprio pescoço a cada noite de mil e uma? Como duvidar entre a gangorra e o banco de madeira onde Marco Pólo dialogava com Kublai Khan? Porquê ver os gansos na lagoa e deixar os corvos de Põe?
18.8.07
Sobre como encher a barriga do Rei
Fedro, Prólogo ao livro III, Babrius and Phaedrus
7.8.07
TEATRO DE SOMBRAS
-o marionetista é valorizado por sua capacidade e destreza na manipulação das silhuetas, tornando-se virtuoso na medida em que reproduzir movimentos capazes de se assemelharem ao dos animais e seres humanos representados.
-A partir de 1966, com a Revolução Cultural, passam a abandonar muitos dos recursos comumente utilizados no espetáculo adaptando-os a esta situação. Novos tipos de varas de manipulação e lâmpadas foram providenciadas, alterando a estética dos espetáculos. Os marionetistas solicitaram ao governo a produção de varas de acrílico para substituir as varas de bambu, freqüentemente utilizadas na manipulação das silhuetas. Estas novas varas garantiram a impossibilidade do público desvendar os mecanismos de articulação das silhuetas.
‘Bolha Luminosa’ da Lumbra
‘Dream of a tree promo reel’
‘Teatro de sombras tradicional do Cambodja’
‘Documentário sobre construção das figures para teatro de sombras chinesas: http://www.youtube.com/watch?v=Zj1dvIg1DIA
‘A arte das figuras do teatro de sombras’
‘Aula sobre construção de sombras’
‘Karagoz, teatro de sombras da Turquia’
‘Sombras Chinesas -vista do público
‘Sombras Chinesas- vista do manipulador
‘João e Maria em sombras
‘Teatro de sombras de Java’
(serão anexados novos links a esta matéria além de outros artigos afins)