15.2.06

A Cobra Morde o Rabo


Amo o teatro e pricipalmente o teatro de bonecos.


Faço parte do grupo A Roda, composto, além de mim, por Olga Gomes, Marcus Sampaio e Stella Carrozzo

A Cobra Morde o Rabo foi o primeiro de nossos espetáculos. Baseado no conto O Velho, o Menino e o Burro, uma história de tradição oral, pertencente ao imaginário popular. Encontramos diversas versões, a mais antiga é alemã, do século XV, obviamente devem existir versões anteriores e que talvez remontem até os gregos.
No espetáculo a narrativa é feita por um boneco inspirado em Cuíca de Santo Amaro, um repentista popular da Salvador dos anos 50, conta a trajetória de três personagens: um velho, uma criança e um burro. Tais personagens percorrem uma longa rota rumo ao mercado onde oferecerão suas galinhas, carregadas de gaiolas. Durante a caminhada, são seguidas vezes interrompidos para ouvir opiniões dos outros e, ao tentar segui-las, atrapalham-se cada vez mais.


Essas complicações, que se sucedem num crescendo, servem de pretexto para a abordagem central do espetáculo: as pressões sofridas pelo homen na sua trajetória de vida, suas esperanças, desilusões e expectativas. A vontade de agradar a todos, leva-os a atingir situações divertidas e até ridículas. Daí a opção estética de utilizar figuras de animais falantes para representar os humanos. Seguem-se imagens de conteúdo lírico e dramático.
A cobra, ao morder o rabo, é a metáfora do ciclo da vida: o menino será o velho e o velho será o menino.


Os bonecos foram esculpidos pela artista plástica Olga Gomes, em madeira. Fizemos juntos a pesquisa de manipulação que algumas vezes sugeria mudanças na escultura, detalhes técnicos que não ofendiam a estética do trabalho de Olga. Muitas vezes também as articulações, peculiares somente a determinados personagens, nos sugeriam a manipulação.

Espero em breve postar imagens deste e dos demais espetáculos que produzimos nestes ja 10 anos de existência do grupo, de viagens e projetos anteriores e os ainda embrionários.
Conceituações e impressões acerca do teatro de bonecos, de animação e de objetos.

O Gupo A Roda

O Poema Lírico


Este óleo me impressiona desde a infância quando ainda não conhecia a pessoa aí representada. Mais tarde li alguns de seus poemas. Bem mais terde ainda soube do artista que o executou e que inicialmente dera-lhe o título de 'Lendo Orfeu'. Este mesmo pintor disse:' As Pessoas que mais admiro são aquelas que nunca acabam'. Não é mesmo possível conhecer ou se interessar suficientemente por algo ou alguém a ponto que conhecê-lo com profundidade e no seu total. Mas percebo que continuamente, como Orfeu, ansiamos ir aos infernos pedir mais luz.

Este quadro pintou-o Almada Negreiros em 1954
Aquí seu auto-retrato.

A composição de um poema lírico deve ser feita não no momento da emoção, mas no momento da recordação dela. Um poema é um produto intelectual, e uma emoção, para ser intelectual, tem, evidentemente, porque não é, de si, intelectual, que existir intelectualmente. Ora a existência intelectual de uma emoção é a sua existência na inteligência, isto é, na recordação, única parte da inteligência, propriamente tal, que pode concervar uma emoção.
Um poeta devidamente apolíneo como este e ao mesmo tempo histérico e paranóico,merece ser celebrado por todos, de Nietzsche a Foucault.