16.7.07

Pena de dourar páginas

Tu me comoves.
Encontrei-te no espólio dos dias
Pertencestes a um amor perdido?
Quem deitou de ti toda a tinta?
Não te percebi entre os dedos de ninguém.
O que te devo?
Quais foram as palavras não proferidas ou os números nunca discados que te fizeram enjeitada?Depois de cada frase te olho.
És esse ponto vacilante onde te percebo tingir o papel e agora só meus golpes nele te fazem existir.



Um punhal de lenda fere fundo a história que hoje expia
o que calou na garganta dos esquecidos.



Data de validade

Tudo o eu me sobra
Tudo o que me gasta
O que sossobra
O que emplastra
O que coagula e me custa solver.
O que é de mim e não me serve
O que prescreve
Mas insiste
Mas incide
E permanece
O que falta resolver.



Medéia fala


De amar e desamar se faz meu caminho
De amar e desamar cada coisa
Um olhar baço desdenhoso do existir.
Barca sem porto, vontade angelimsólida dos anéis de muito ontem.
Quilha mordaz da barca carôntida.
Página limítrofe do pensamento
Espátula de retirar o teor dos anos.
Coração mesopotâmicoque verte minhas indecisões mais queridas
Rebusquei umas palavras já ditasdesditadas pela falta de uso
quiproquó de coisas interditas
quiz fazê-las e fí-las costumeiras
Uns se apoderam, sou destes,
outros se aglomeram em volta do mediano
Medeiam, que tragédia!
O vão entre a palavra e o gesto é onde se espera compreendê-la.
Mas, plenamente compreendida já é tarde.
Presto jazem os filhos, verdes folhas caídas.