13.12.08

Os muitolentos e os muitorrápidos



Eram existências distintas convivendo no mesmo espaço.

Duas raças ignorando-se.

Alguns dos muitolentos passaram a cogitar a existência dos muitorrápidos quando encontraram seus cemitérios. Os muitorrápidos demoraram um pouco para começar a cultuar seus mortos. Logo em seguida vieram as construções de moradia. Os muitolentos não tinham nenhuma noção da arquitetura dos muitorrápidos; não lhes era possível distinguir entre uma tumba e uma casa, pois ambas mostravam-se sempre vazias. Estes tinham uma constituição muito frágil e seus cadáveres decompunham-se com a mesma rapidez com que viviam. Esta impossibilidade de distinguir a função daquelas arquiteturas gerou entre os muitolentos discordância sobre a possibilidade de existência de uma civilização assim tão efêmera. Os crentes desenvolveram uma mania de perseguição e os não crentes várias teorias sobre geração espontânea da matéria.

Já os muitorrápidos conheciam os muitolentos desde sempre, mas não lhes era possível entende-los como uma civilização. Talvez um sábio dos muitorrápidos que se dedicasse a catalogar aquelas formas pudesse percebê-las como civilização. Para eles a sabedoria era uma febre que precisava ser rapidamente curada. A maioria dos muitorrápidos morria antes de começar a fazer conjecturas.

Obviamente aquelas formas que os muitorrápidos entendiam como estáticas se moviam, mas uma só geração não era suficiente para constata-lo. Talvez não fosse necessário dizer, mas os muitolentos tinham uma vida longa enquanto os muitorrápidos não duravam mais que um piscar de olhos daqueles.






As imagens que ilustram o texto são de Misha Gordin. Veja mais de suas 'conceptual photographys' clicando aquí.