4.3.06

O Poema só existe sob os olhos de medusa do leitor

Aquí alguns escritos sobre o tempo.


Que se cumpra o fato
o rumorejar do vento
eternamente
Que se cumpra a morte
e o dom supremo
de cavalgar a existência
Que se cumpra tudo
como na alma-desejo.
(1992)


Da sacada do teatro de mim mesmo
alcei vôo leve, insandecido
palco-fortaleza do meu corpo
assim abandonado e esquecido
Dos olhos da máscara de mim mesmo
quedou-se a lágrima leve distraída
cego órgão inútil do meu rosto
da tristeza de memórias mal vividas.
(1992)

Os anos passam e vergam os galhos
da velha árvore sagrada
na senda da história plantada
entre curvas abismos e atalhos.

(1989)

Hoje sou vindo
antes não era
e assim chegado
quedo-me não por cansaço
poluído me levanto
e assim erguido
(sacudida a sílica agora inútil)
assim desprendido
olho e me encando
com o já vivido.
(1992)

De amar e desamar
se faz meu caminho
De amar e desamar cada coisa
Um olhar baço
desdenhoso do existir.
Barca sem porto
vontade angelim
sólida dos anéis de muito ontem.
Quilha mordaz da barca carôntida.
Página limítrofe do pensamento
Espátula de retirar o teor dos anos.
Coração mesopotâmico
que verte minhas indecisões mais queridas.
(1992)

Um comentário:

Anônimo disse...

Ótimos! Poesia por aqui é uma coisa que gosto muito. Confesso minha admiração e emoção através do segundo poema e do último. São bem construídos, palavras ótimas e imagens que me deixaram calado. Parabéns. Abração.