9.8.06

A Pele do Mar

O ar oprime a pele do mar.

O mar almeja espalhar desde si suas inconstâncias aterradoras.


De algum triste engano fiz-me ao mar
e o mar destragou-me
devolvido ainda vivo trago este cálculo insolúvel que me pesa os rins.
Me atravessa mal no corpo a água
Sou parte inundado
parte ressecado
Morro afogado, morro de sede.
Daquí vejo só profundidade




Rebusquei umas palavras já ditas
desditadas pela falta de uso
quiproquó de coisas interditas
quiz fazê-las e fí-las costumeiras
Uns se apoderam, sou destes,
outros se aglomeram em volta do mediano
Medeiam, que tragédia.
O vão entre a palavra e o gesto é o que se espera para compreendê-la.
Mas, plenamente compreendida já é tarde.
Presto jazem os filhos, verdes folhas caídas.



A ponta da língua testa
se irrita recua
Afirma rígida entre os contráteis mesmos lábios dois entreabertos
hirtos entre a mesura e a languidez.

8 comentários:

Anônimo disse...

Meu amigo, desculpe o sumiço!!! Estava numa fase meio silenciosa mas agora tudo está voltando aos poucos. Eu havia deslinkado todos os meus amigos só para lê-los no silêncio. Sem comentários. Aí voltei a comentar e aos poucos estou retomando os links. Que bom que foi lá, hehehe. Agora não perco os posts aqui... poemas sempre bons hein? Vou ler o que perdi... Abração.

Anônimo disse...

Esta sensação de ser "parte inundado, parte ressecado" é sinal de vida. E ver profundidade é sensibilidade, né? rs...
Muito bom te ler. A gente vai mergulhando nas palavras e vira barco à deriva!
Beijos, menino!
Ah... obrigada pela visita ao ÀQ flor da pele. Fiquei muito feliz.

Anônimo disse...

Olá, Fábio! Bom você comentar lá no Miolo, assim pude conhecer seu recanto. Li seus textos, mas, para comentá-los, necessitaria de mais reflexão...No entanto, pareceram-me à primeira vista de boa feitura.
Não sei se me fiz entender no texto do Miolo, porque os comentários que li não abordaram a idéia única e principal: a desvantagem que um escritor de país com pouca bagagem cultural sempre levará...Não quis dizer com isso que não temos escritores geniais, dentre os quais eu citaria G. Rosa, C. Lispector, João Cabral, Drummond e muitos e muitos mais...
Mas, justamente penso que eles são ainda mais dignos de serem considerados "geniais" porque superaram dupla barreira: a da forma literária(que conquistaram) e o fato de serem de país pouco conhecido!! Pense em quanto eles seriam superiores aos escritores que, por serem de países ricos, já têm meio caminho andado...quanto às editoras, ao público esclarecido, etc..
Será que me fiz mais clara agora? rs
Beijos.
Voltarei, com tempo de ler você, como você merece!

Barbara disse...

Canção do Mar, cantada pela Dulce Pontes. É a trilha perfeita para um post encantador. Fazer-se ao mar - quem não precisa ser resgatado de vez em quando?

Anônimo disse...

Achei belíssimos seus escritos.
Este texto inicial, " A Pele do Mar", em que você joga com os contrastes de "inundado" e "ressecado", traz uma tensão que parece não se resolver, quando, de repente, na última frase, vem a afirmação que fica como uma lição do abismo: "Daqui vejo só a profundidade". Gostei muito disso!
Minha interpretação é sempre subjetiva demais, porém, como não sou crítica litarária, vc há de aceitar meus critérios de avaliação...rs
Beijos, Fábio.
Dora

Saramar disse...

"outros se aglomeram em volta do mediano
Medeiam, que tragédia."

"Sou destes"

Poeta, sou destes, e o pressinto sempre que leio poemas tão perfeitos como os que encontrei aqui.

Voltarei para ler mais.

Janaina disse...

Oi, Fabio. Cheguei aqui através do Falares, da Sara. Adorei, me encantei...
Beijos!

Anônimo disse...

Bom fim de semana, cara!