12.4.07

Mapinguarí

Foi enternecedor resgatar o conto da postagem anterior escrito já a dez anos. Entre as boas lembranças que me vieram ao revisitá-lo está a dos encontros de volta às aulas com Joaquim Castro, um amigo de adolescência e ginásio no Intituto Catarina Labourè de Belém, que se maravilhava com as estórias que eu trazia do interior, assimiladas dos mais velhos nas noites das férias de dezembro iluminadas à lamparina quando nós meninos, já aboletados em nossas redes, éramos ninados pelas conversas vindas desde a cozinha junto com o cheiro de carvão e café. Joaquim tinha uma imaginação exuberante, era um prazer narrar-lhe os causos que me entranhavam na mente tão vivos porque contados, ouvidos e recontados com muita fé. Obviamente já não sou tão crédulo e é provável que este meu amigo já não o seja também, mas algo permanece daquela alma sôfrega que ainda me atira, cheio de prontidão, diante de uma conversa ao pé do fogão ou de um bom livro.
Joaquim e eu misturávamos tudo. Tudo fazia parte de tudo e éra-nos possível ver referência de lendas indígenas em Júlio Verne e na mitologia grega tratada por Monteiro Lobato em Os doze trabalhos de Hércules. Marcopolo e Erich von Daniken nos faziam duvidar e acreditar ao mesmo tempo.
Hoje me veio a curiosidade de procurar no Google sobre o Mapinguarí, o ser monstruoso que habita o imaginário dos índios e caboclos e sobre o qual trata o pequeno conto da postagem anterior. Nada encontrei que pudesse somar. Tudo é muito cômico e coberto do ranço pretensioso de enciclopédias baratas. Tudo reduzido ao folclórico superficializado que deve fazer tinir os ossos de Câmara Cascudo e contra o qual acredito ter lutado Ariano Suassuna e a turma do movimento armorial.
Não sei se é possível escrever sobre algo sem referências emocionais. Talvez seja um virtuosismo ocultar estas referências.

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