', Et Cetera' de Jan Svankmajer
30.8.07
Quede, cadê?
Quando dei por sua falta? Como sou descuidado!
Quando o procurei? Se houvesse procurado talvez, ao encontrá-lo, o guardasse em outro lugar. Que outro lugar? Mas, afinal, qual foi o primeiro lugar onde o deixei? Definitivamente nunca o procurei. Talvez nem o perdera a não ser em minha memória. Estarão perdidas as coisas das quais não lembramos? Quantas coisas estarão assim não achadas por não procuradas, por nem lembradas. Coisas tantas. Um pedaço imenso que nos constitui sem o sabermos.
Não há tantos lugares onde procurar, aliás, há. Tantas mudanças... Talvez tenha ficado pelo caminho. Eu lhe tinha tanto apego! Não, se fosse apegado eu o mudaria de um lugar para outro e haveriam muitos lugares impregnados de seu significado e todos estes lugares me obsedariam com o peso de sua existência.Lembro muito bem da primeira vez. Não, não lembro. Estranho, por mais que retroceda não me é possível lembrar quando... Ah, mas me lembro como! Não, não lembro. Minha vida, agora percebo, é um ‘roll’ de negações sistemáticas.
29.8.07
O Jardim Selvagem
Lavadas as carnes vermelhas o enxágüe era reservado para com ele serem regadas certas plantas. A ‘jibóia’, a ‘jiboínha’, o ‘tajá’. A planta ‘curada’ desenvolvia o poder de materializar, à noite, uma jibóia ou de criar a imagem de uma jibóia para afastar intrusos. A imagem de um homem ou preto-velho também poderia ser criada por estas plantas. Caso a planta, depois de curada, de receber pela primeira vez a água com sangue, não recebesse constantemente esse tratamento, ela se voltaria contra os donos da casa, não mais os protegendo de intrusos ou atraindo má-sorte. Depois de iniciado o encantamento era necessário manter a ‘obrigação’.
Minha avó paterna mudava de casa levando suas plantas. O caminhão de mudanças parecia um jardim móvel. Nas casas o jardim ocupava o pátio e as laterais da casa. Vasos, latas de manteiga, vasilhas plásticas, baldes tudo em desordem. Plantas sustentando plantas num arranjo caótico. As samambaias e avencas em profusão. Roseiras, crótons e bananeiras.
Entre os talos das palmas da bananeira ali eram depositados nossos cabelos cortados para voltarem a crescer mais saldáveis. As graxas, que lá se chamavam pampolhas, cresciam próximas à cerca ou substituíam parte dela. A roseira-de-cacho entremeava-se aos gradis das janelas deixando as casas da minha infância estavam sempre em penumbra. Lembro de deitar folhas de papel ao chão e desenhar as silhuetas das plantas que se projetavam desde as janelas.
Gosto das lendas indígenas que falam da metamorfoses de seres humanos em plantas. Dentre as muitas que ouví das bocas de minhas avós e tias antes mesmo de conhecer o mito de Narciso e Eco, que também adoro, está a do Tamba-Taja.
'Havia um índio que, por muito amar sua esposa, levava-a sempre consigo para todo lugar, fosse para caçar, pescar ou lutar. Certa vez, o índio teve que ir para a guerra, mas a esposa estava doente, sem poder andar. Não querendo separar-se de sua amada, ele fez um saco com folhas de bananeira, para carregá-la nas costas. Durante o combate, sua amada foi ferida e morreu. O índio, desesperado de amor, enterrou-se junto com ela. No lugar onde jaziam seus corpos, nasceu um tajá diferente, pois atrás de cada grande folha verde da planta nascia uma pequena folha de forma vaginal. Renasciam assim os amantes, unidos novamente para sempre'.
Waldemar Enrique (1905-1995) compôs 'Tamba-Tajá'
Tamba-tajá me faz feliz
que meu amor me queira bem
que meu amor seja só meu
de mais ninguém
que seja meu,todinho meu,
de mais ninguém.
Tamba tajá me faz feliz...
Assim o índio carregou sua macuxi
para o roçado, para a guerra, para a morte...
assim carregue o nosso amor a boa sorte...
Tamba-tajá me faz feliz...
Que mais ninguém possa beijar o que beijei
que mais ninguém escute aquilo que escutei
nem possa olhar dentro dos olhos que olhei.
Tamba-tajá
Tamba-tajá
Para ouvir ou baixar em mp3 a composição executada no 1° Encontro Nacional de harpistas clique aquí.
E aquí, pelo youtube, uma homenagem a Waldemar Henrique pela Orquestra Sinfônica do Teatro da Paz tendo Mateus Araújo como rejente.
23.8.07
20.8.07
Só o que trago dos anos 80
Quase nunca ouço música americana mas gosto de Cyndi Lauper e especialmente do álbum 'Sisters of Avalon'(com Jan Pulsford). Dentre suas músicas a que mais ouço é 'Mother', que me causa um estranhamento que beira o místico (e me faz lembrar Hamlet!). Encontrei um comentário atribuído à Cyndi Lauper sobre esta canção no blog 'Brothers and Sisters of Avalon'. Acho bastante confiável porque o discurso parece mesmo com o dela.
"Jan começou a escrever esta canção no Hotel Okura em Tóquio. Jan e eu terminamos ela Connecticut e Tennesse. Shang Shang Typhoon fez a harmonia nesta canção. Como a canção começou a ser escrita em Tóquio, eu e Jan precisavamos de alguém como Shang Shang Typhoon envolvido nesta canção. Eles (grupo de S.S. Typhoon) têm uma existência muito misteriosa, eu sinto como se eles estivessem vindo de um outro planeta mas quando eles entraram em nosso ritmo, eu percebi que eles são realmente maravilhosos. Esta canção é sobre nossa terra, a re-descoberta da terra. Nós, vivemos numa civilização em forma útero materno . Eu também tenho um útero porque eu sou uma mulher e eu tive que mudar o modo que eu penso quando eu percebi que esta civilização está toda conectada pelo útero de uma mãe... Eu escrevi esta canção num dia em que a lua parecia tão azul que isso me inspirou a cantar sobre esta terra e nós... é muito memorável".
Gosto muito desta foto de um disco recente, ela de 'glam lady' diante de NY saindo de um bueiro. Ela nasceu no Queens.
"Como 'You Don´t Know', esta canção também surgiu quando eu estava muito chateada. A história é assim: Um dia, eu fui a um bar cheio de pessoas que estavam lidando com negocios de espetáculo. Eles não sabem qualquer coisa sobre o assunto, mas estavam conversando sobre artistas. Eu penso que isto é tão terrível o quanto eles não se preocupam com outros, mas o assunto se fixou nisso!
Eu disse que estava tentando algo novo, um homem me disse " Ei, isto não é possível para você e até mesmo porque esta é coisa ruim para fazer " (os Leitores não sabe o que Cyn estava tentando para fazer) Então eu pensei : "Quem decidiu que isto é ruim"? Eu estava tão furiosa. Eu poderia dizer que até mesmo se ele finge ser um bandido, dentro dele existe uma pessoa muito conservadora, que segue bem firme ali dentro. Assim, este sentimento que eu tive, me fez pensar nesta canção. Nigel Pulsford e William Witmann deram o acabamento instrumental nesta canção e eu também toco guitarra nela."
Praças e livros
É um lugar de respirar, só lembramos disso quando lá estamos.
Ali sob os cajueiros onde, encarapitado, ensaiei meus primeiros jogos eróticos. Onde os flamboyans rivalizavam com as nuvens de final de tarde em flamejações. Onde nós moleques assavamos pardais e tanajuras.
Foi em uma praça que os encontrei, os livros. Antes pensava que só existiam enciclopédias, que conhecia de lhes ver as figuras e onde tartamudeei as primeiras palavras numa época de primário de escola pública. Nem sabia existir bibliotecas e aquela, móvel (a propriedade que todo livro quer ter e nem sempre consegue) veio substituir em igual vertiginosidade, os brinquedos que dali em diante só serviam de espera para o momento mais feliz de ver a combi chegando com eles, os livros. Como girar nas argolas se Sherazade contava estórias para livrar o próprio pescoço a cada noite de mil e uma? Como duvidar entre a gangorra e o banco de madeira onde Marco Pólo dialogava com Kublai Khan? Porquê ver os gansos na lagoa e deixar os corvos de Põe?
18.8.07
Sobre como encher a barriga do Rei
Fedro, Prólogo ao livro III, Babrius and Phaedrus
7.8.07
TEATRO DE SOMBRAS







-o marionetista é valorizado por sua capacidade e destreza na manipulação das silhuetas, tornando-se virtuoso na medida em que reproduzir movimentos capazes de se assemelharem ao dos animais e seres humanos representados.

-A partir de 1966, com a Revolução Cultural, passam a abandonar muitos dos recursos comumente utilizados no espetáculo adaptando-os a esta situação. Novos tipos de varas de manipulação e lâmpadas foram providenciadas, alterando a estética dos espetáculos. Os marionetistas solicitaram ao governo a produção de varas de acrílico para substituir as varas de bambu, freqüentemente utilizadas na manipulação das silhuetas. Estas novas varas garantiram a impossibilidade do público desvendar os mecanismos de articulação das silhuetas.










‘Bolha Luminosa’ da Lumbra
‘Dream of a tree promo reel’
‘Teatro de sombras tradicional do Cambodja’
‘Documentário sobre construção das figures para teatro de sombras chinesas: http://www.youtube.com/watch?v=Zj1dvIg1DIA
‘A arte das figuras do teatro de sombras’
‘Aula sobre construção de sombras’
‘Karagoz, teatro de sombras da Turquia’
‘Sombras Chinesas -vista do público
‘Sombras Chinesas- vista do manipulador
‘João e Maria em sombras
‘Teatro de sombras de Java’
(serão anexados novos links a esta matéria além de outros artigos afins)

1.8.07
A Fórmula da Sabedoria
(versão de Luiz Roberto Galizia)
1 Vocês conhecem muito bem
O sábio Salomão
Todo universo ele entendeu
Maldisse a hora em que nasceu
“Vaidade, tudo é vaidade”
Como era sábio o rei Salomão
Mas com o tempo a correr
Foi que o mundo entendeu
Saber demais foi sua perdição
Melhor não ter nenhum saber…
2 Cleópatra era tão linda
Todo mundo diz
Dois homens ela conquistou
E no prazer então chafurdou
Foi definhando até morrer
Mas com o tempo a correr
Foi que o mundo entendeu
Prazer demais foi sua perdição
Melhor não ter nenhum prazer…
3 O grande César teve o mundo
Inteiro em suas mãos
Mas um punhal fatal o venceu
Do pedestal ele caiu
Triste destino dos grandes reis
Mas com o tempo a correr
Foi que o mundo entendeu
Poder demais foi sua perdição
Melhor não ter nenhum poder…
4 O indiscreto Brecht quis saber
Escutem suas canções
Como os ricos têm poder
De acumular tantos milhões
Pobre no exílio foi pararBrecht xerêta
Bisbilhoteiro
E com o tempo a correr
Enfim o mundo percebeu
Fuçar demais foi sua perdição
Melhor viver na discreção…
5 E agora vejam o nosso Mac
Tão sensual ladrão
Se fosse frio, racional
Seria um grande profissional
Mas a paixão o destruiu
Gostoso Mac
Como vai ser?
Mas com o tempo a correr
Enfim o mundo vai saber
A carne foi a sua perdição
Melhor fugir da tentação
É possível ouví-la cantada por Maria Alice Vergueiro no seu blog 'Lírio do Inferno'